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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Vale a pena participar de workshops de dança?

Caros leitores do blog, após ler um texto do Lucas Bittencourt, publicado na revista eletrônica Dança em Pauta, o qual discorre sobre a utilização do termo "workshop" para aulas de dança e também sobre a qualidade desse tipo de evento, me senti compelido a dar a minha opinião, principalmente por discordar de algumas afirmações feitas pelo autor.

Para contextualizar, recomendo primeiro a leitura do texto (link abaixo) que me mobilizou:


Vou tentar comentar os pontos dentro da ordem em que aparecem no texto original, a fim de facilitar o entendimento.

Sou participante assíduo de diversos eventos tais como congressos, workshops, cursos de aperfeiçoamento.. muitas vezes como aluno e outras como professor.  Até o momento desconheço algum que não dê espaço para debates, diálogo, etc.. independentemente do formato adotado.

Além disso, qualquer tipo de evento exigirá tanto conhecimento técnico quanto for o nível proposto para o tal, variando do mais elementar ao mais aprofundado. Ou seja, a questão do nível técnico não tem relação direta com o tipo de evento ou a nomenclatura utilizada para este, e sim do que tiver sido previamente proposto.

No meu entendimento, a palavra workshop (que assim como diversas outras de origem inglesa, já foi incorporada ao nosso idioma) tem mais a ver com “oficina” do que com seminário.

O ponto que mais me chamou a atenção no texto foi a seguinte afirmação:

“Workshops, normalmente, são aulas de dança ruins”

Que generalização é essa? Essa afirmação é baseada em quê?? Há de se ter muito cuidado quando se escreve sobre qualquer assunto, o pecado da generalização é um dos principais motivos para se cair em descrédito, pois sinaliza uma mente estreita e incapaz de incorporar conceitos diferentes dos já enraizados, limitando percepções e dificultando a evolução.

A proposta de um workshop (dentro do contexto da dança, obviamente), assim como a de diversos outros tipos de  formatos de aulas, de modo geral, não tem a ver com o “ensinar a dançar”, e sim com a exposição de outras realidades relacionadas à dança. É um evento para a busca de informações, novidades, troca de experiências, etc.. Pode ser pautado em diversos tipos de dinâmicas, com a utilização de “passos” para demonstração de técnicas ou não.

Concordo plenamente com diversas afirmações do texto quando se referem a aspectos que devem ser trabalhados nas aulas de dança. No entanto dificilmente (pra não dizer raramente) se conseguirá trabalhar todos os aspectos em uma única aula. Alguns elementos só poderão ser trabalhos a partir de uma preparação prévia do aluno. O corpo precisa de tempo e a mente também.

Achei um tanto quanto incoerente o autor incentivar a busca de conhecimento ao passo que o seu texto claramente desmerece a  qualidade de cursos pontuais como workshops e  congressos, os quais, ao meu ver são excelentes fontes de conhecimento. Me pareceu uma tentativa de fechar o universo de opções para os alunos, limitando-os apenas às aulas regulares (obviamente imprescindíveis mas tendo também suas limitações) e fazendo-os acreditar que o que é diferente é prejudicial.

Não se deve desmerecer outras formas de disseminação de conhecimento pois cada uma delas possui suas características específicas que podem ser muito bem aproveitadas por uns e não aproveitadas por outros. Não é um formato de aula que vai definir a qualidade desta, e sim a qualidade dos profissionais que a ministram, sejam essas aulas regulares, aulas de workshops, aulas de congressos, cursos específicos, etc..

Assim como o texto do Lucas Bittencourt, essa foi apenas a minha opinião.

Em uma das aulas do 6.º Workshop Zouk in Motion - PoA - RS

Comentários
3 Comentários

3 comentários:

  1. Para quem leu o meu texto, o Lucas postou uma resposta no Dança em Pauta, recomendo a leitura. :-)

    A minha resposta subsequente:

    Olá Lucas! Fico feliz em saber que pensas assim e que podemos ter esse tipo de diálogo, certamente ambos crescemos com isso. :-)

    Quanto ao texto, acrescento apenas que acho que ele poderia ter sido direcionado e ter esclarecido que a questão principal não é o formato da aula eventual em si (seja workshop, congresso, intensivo, etc..) e sim a utilização desse tipo de aula como única fonte de aprendizado, que é justamente o que você esclarece nessa sua resposta.

    Sobre isso, acredito que nós professores podemos e devemos preparar nossos alunos para que estes possam tirar o melhor proveito de qualquer curso paralelo às suas aulas regulares. Devemos orientá-los a mudarem o seu olhar, buscarem além da obviedade superficial quando apresentados a uma sequência/passo/etc.. a fim de identificarem as técnicas envolvidas, sejam elas de condução e resposta, de musicalidade ou personalidade dos dançarinos envolvidos na demonstração. Dessa forma, estaremos contribuindo para que nossos alunos abram suas mentes e possam transcender o que lhes foi passado em um curso rápido e a partir daí buscarem a criação além da simples reprodução.

    Para fechar, acredito que o universo de coisas que temos a aprender será sempre maior do que o que pensamos já saber. A humildade é essencial para continuarmos evoluindo e esta deve ser passada também para os nossos alunos, só assim eles não deixarão de evoluir também.

    Obrigado pelo espaço e muita dança para nós todos! :-)

    Grande abraço!

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  2. Oi Flávio, li seu artigo e tb o do Lucas Bittencourt e desde já quero parabenizá-los pela iniciativa de pensar as DS.

    A primeira coisa em que concordo com o Lucas é que, nas DS, ainda prevalece a cultura do passo. Entretanto é preciso entender que essa é uma prática que vem de muito tempo, quando dançar a dois se tornou popular, e aprender a dançar era quase sinônimo de copiar os passos de algum dançarino talentoso. Depois ressurgiram o formato de aulas, bem diferente das que aconteciam na Idade Média, quando as aulas, exclusivas dos nobre, incluíam, além dos passos de dança, também etiqueta social, esgrima.

    Mas, voltando ao assunto, na minha opinião, ainda prevalece na DS a cultura do "tráfico" de passos. Não só nos workshops, DVDS didáticos, vídeos do Youtube, nas aulas de encontros e congressos e mesmo nas aulas regulares. Mais do que uma questão de nomenclatura, acho que o mais importante seria pensarmos a qualidade desses eventos.

    Sabe do que eu sinto falta toda vez que anunciam um workshop? Tema, objetivo, meta. Justamente devido ao tempo curto, acho que a clareza do que será abordado num workshop é essencial. Por que ao menos par mim, coisas do tipo "workshop de zouk intermediário" em 4h é muito amplo e não explica nada. O que do zouk será abordado? Necessita pre-requisitos? Se sim, quais? Outra coisa é a noção de nível, onde parece não haver nem consenso nem muito menos parâmetros definidos.

    Os congressos e encontros geralmente são um conjunto de workshops (o de Zouk em Porto Seguro está anunciando 100 professores), então, sinto falta de momentos de debates (talvez o problema seja meu, que sou muito acadêmica, mas enfim, essa é a minha história de vida).

    Também concordo quando o Lucas quando ele diz "Uma aula de dança deve revolucionar de alguma forma o estudante". Mas não acredito que a regularidade GARANTA isso. Aliás, o que tenho visto neste meus 14 anos de prática e 10 de investigação, é ainda a prevalência de um "modelo padrão" de aula regular basicamente composta pelos seguintes momentos:
    - aquecimento/alongamento individual (geralmente em frente ao espelho),
    - demonstração da sequencia de aula pelos professores/monitores,
    - experimentação individual das partes da sequencia (homens de uma lado, mulheres do outro),
    - experimentação em duplas sequencia (com ou sem rodizio de pares)
    - encerramento com momento livre para dançar a dois ou aulão individual livre do tipo "siga o mestre"

    Enfim, não acredito num roteiro único de aprendizagem para as DS. Acredito que o que mais vale é a qualidade das experiências vivênciadas que dependem do professor sim, mas principalmente do praticante/aluno. Tenho inclusive buscado conhecer pessoas com práticas pedagógicas diferentes, mais condizentes com um pensamento contemporâneo sobre dança e educação.

    Um grande abraço,

    Evie Souto Miranda
    Licencianda em Dança pela UFBA
    http://eviesoutodanca.blogspot.com.br/

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  3. Olá Evie, agradeço imensamente pela participação nessa conversa. :-)

    Infelizmente essa “cultura do passo” existe sim, e não sou nada favorável a ela. No entanto é preciso ter sensibilidade para também entender que a maioria (me atrevo a dizer “maioria” em função de experiência própria ao longo dos anos) dos alunos buscam por isso quando participam de um curso. Já ouvi comentários, após alguma aula, do tipo: “o cara falou mais do passou conteúdo” (sem perceberem que o conteúdo falado, quando inteligente, costuma ser o mais rico). Na minha visão, o “pulo do gato” é montar uma aula que atenda a expectativa do aluno e ao mesmo tempo busque mostrar o que está além de uma simples sequência ou passo... abrir o caminho para novas possibilidades, ter a mente aberta durante o ensino e estimular o aluno à exploração (no bom sentido).

    Concordo contigo na questão de temas explícitos no anúncio dos cursos, e também na questão dos níveis. Ao meu ver, uma coisa influencia na outra. Já participei de cursos onde havia uma proposta clara de conteúdo, no entanto, em função do nível da maioria dos participantes, a aula dada foi com proposta diferente da anunciada (sensibilidade do professor). Acho muito legal montar um workshop sendo claro sobre o conteúdo, mas é preciso saber lidar com as variáveis, que nesse caso são os próprios alunos, que em geral, procuram aulas cujo a proposta é para um nível além do seu próprio (é o que tenho visto e revisto o tempo todo em eventos de Zouk). Nessa hora o que é mais importante? Ser fiel ao conteúdo previamente proposto ou ministrar algo que possa ser mais útil à maioria presente? Talvez seja por isso que a maioria dos cursos não anuncia um tema.. talvez. :-)

    Acredito que muito mais do que um modelo padrão de aula, seja necessário ao professor a sensibilidade para direcionar sua aula às necessidades e andamento da turma. A prática, discurso e debate devem andar juntas para que a aula seja dinâmica e ao mesmo tempo instigue os participantes.

    Mais uma vez agradeço pela tua participação. :-)
    Bjão e até mais.

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